A ineficácia do ranking da CBV e a necessidade do seu fim
Uma análise da aplicabilidade do ranking nas competições organizadas pela Confederação Brasileira de Voleibol
O ranqueamento da Confederação Brasileira de Voleibol existe desde o ano de 1992 e tem como objetivo tornar a disputa das competições nacionais mais equilibradas, conforme exposto pelo próprio texto oficial apresentado pela CBV, porém não é esse o efeito observado nos últimos anos.
2. INSCRIÇÃO DE ATLETAS ESTRANGEIRAS
2.1. – Cada equipe poderá inscrever, no máximo, 02 (duas) atletas estrangeiras. Ranking de Atletas – 2017/2018
3. INSCRIÇÕES DE ATLETAS BRASILEIRAS
3.1. – Cada equipe poderá inscrever, no máximo, 02 (duas) atletas brasileiras com 07 (sete) pontos das 09 (nove) atletas relacionadas abaixo:
01 DANIELLE RODRIGUES LINS 7
02 FABIANA MARCELINO CLAUDINO 7
03 FERNANDA GARAY RODRIGUES 7
04 GABRIELA BRAGA GUIMARÃES 7
05 JAQUELINE MARIA CARVALHO 7
06 NATÁLIA ZILIO PEREIRA 7
07 SHEILLA CASTRO DE PAULA BLASSIOLI 7
08 TANDARA ALVES CAIXETA 7
09 THAISA DAHER DE MENEZES 7
Alvo de muitas críticas por parte dos atletas envolvidos, incluindo até o ajuizamento de uma demanda judicial proposta por um grupo de atletas da Superliga feminina, o ranking traz outros fatores à tona, e acaba sendo muito mais prejudicial do que saudável ao esporte, conforme será exposto diante de estudo realizado dentro da própria Superliga e também em um comparativo com a forma utilizada nos esportes americanos para promover o equilíbrio entre os as equipes.
1 – OS RESULTADOS MOSTRAM TOTAL DISPARIDADE ENTRE AS EQUIPES.
Na temporada da Superliga 2016/2017, podemos observar em ambas as categorias o total domínio dos primeiros colocados, no caso as equipes de maior investimento.
No masculino temos o SADA/Cruzeiro como primeiro lugar, não encontrando dificuldades para derrotar o Lebes/Gedore/Canoas, oitavo colocada da fase de classificação. O Funvic/Taubaté, segundo colocado, também não teve problemas para passar pelo Juiz de Fora Vôlei, que com um time jovem e composto por atletas cedidos pelo SADA/Cruzeiro, conquistou uma honrosa sétima colocação.
O SESI-SP que repatriou os destaques do voleibol mundial Bruninho e Lucão, diante de algumas lesões de seus atletas encontrou alguma dificuldade para passar pelo Minas Tênis, que sempre se destaca por ser um clube formador de estrelas, porém refém de resultados recentes diante da falta de um grande investidor, no confronto entre 3º e 6º colocados. Até mesmo o confronto entre 4º e 5º colocados, respectivamente Vôlei Brasil Kirin e Montes Claros, foi resolvido em apenas três partidas.
Todas as séries foram resolvidas em 3 partidas a 0, mostrando a notável disparidade entre as equipes, já que nenhuma das equipes abaixo da 5ª posição conseguiu fazer frente as classificadas acima. Igualmente no feminino.
O Rexona/Sesc (1º) passou por 2 jogos a 0 pelo Pinheiros (8º), resultado igual ocorreu entre as partidas entre Vôlei Nestlé (2º) contra Fluminense (7º) e Camponesa/Minas (4º) contra Genter Vôlei Bauru (5º). Apenas o Dentil/Praia Clube (3º) diante da recente lesão da central Fabiana perdeu um jogo para o Terracap/Brb/Brasília Volei (6º), porém no fim fez valer sua melhor classificação.
Dessa forma podemos constatar que não há o equilíbrio buscado pela confederação, diante de apenas uma das equipes classificadas abaixo da 5ª colocação nas duas competições conquistar uma vitória nos playoffs.
2 – OPÇÃO PELO EXTERIOR PARA OBTER A DEVIDA VALORIZAÇÃO
O ranking utilizado pela CBV realmente parece um meio para coagir os atletas a não atuar no país e ainda limitar a vitrine internacional da Superliga.
Das nove atletas ranqueadas, quatro não atuam no país, o que acarreta em uma grande perda de nível técnico na competição. Ainda se um time que já possuí duas atletas do ranking desejar contratar uma terceira, é impedido for força do mesmo, como ocorreu nesta temporada com a ponteira Jaqueline, que teve uma grande dificuldade para encontrar um clube com patrocinador disposto a arcar com seu salário, quase ficando com sua atuação restrita a outro país, o que acarretaria num distanciamento entre da sua família, inclusive de seu filho pequeno.
Ainda temos a impossibilidade de trazer mais de duas jogadoras estrangeiras por clube, dificultando o intercâmbio entre países com o voleibol brasileiro, que fica restrito apenas a ida de atletas ao esporte de outros países. Lembrando que a Itália e a Rússia são casos em que as suas ligas cresceram bastante com esse intercâmbio e mesmo assim não perderam a força de suas seleções.
Por consequência grande patrocinadores são afastados do voleibol brasileiro, diante da impossibilidade de contratar estrelas do esporte que trariam visibilidade para sua marca, o que acarretaria em mais um ou dois times de ponta em cada modalidade.
3 – O MODELO AMERICANO DE EQUILÍBRIO NAS MODALIDADES
Nos Estados Unidos o sistema utilizado para promover o equilíbrio entre as equipes é o Salary Cap, que por mais que possua peculiaridades entre as modalidades, tem como conceito limitar os gastos salariais evitando a disparidade entre as equipes.
É um conceito 100% eficaz? A resposta é não. Existem falhas, porém torna as equipes mais livres para planejar os seus gastos visando o título ou uma boa posição em um futuro draft para recrutar um talento da faculdade que chegará com um salário máximo para jogadores de novatos, compatível com o orçamento do time.
Cada vez que um time ultrapassar o teto salarial ele terá uma multa severa por isso, o que permite a realização de uma série de manobras por parte das equipes para se manter competitivas. Temos casos dos dois lados dentro da NBA nessa temporada.
O Golden State Warriors comprimiu seu orçamento para que o astro Kevin Durant pudesse ser adquirido pela franquia, e assim mantém a hegemonia da conferência oeste, enquanto o time com a menor folha salarial da liga, o Utah Jazz, aposta em jovens talentos draftados e ocupa a 4ª posição da mesma conferência, a frente de times com folhas salariais imensas, como Los Angeles Clippers e Oklahoma City Thunder.
Para utilizar como exemplo, temos uma hipotética equipe de vôlei brasileira, que contasse em seu elenco com Giba e Nalbert, cada um ganhando 4 mil mensais com um teto salarial da liga em 10 mil. Porém desejando ter o atleta Giovani em sua equipe, que também tem o salário de 4 mil. A equipe conversando com seus atletas passa por uma reformulação e pagará 3,3 mil para cada um, adequando sua folha e ficando ainda mais forte.
Sem dúvidas esse é um modelo que seria mais adequado a realidade brasileira, onde a CBV insiste em regular o campeonato de maneira unilateral e arbitraria, afastando ainda mais os investimentos da competição.
Isso sem entrar na discussão da falta de visibilidade aos patrocinadores, que não tem seus nomes citados em transmissões esportivas diante de cláusulas abusivas por parte da detentora dos direitos e do deficit em que a confederação se encontra após os escândalos em 2014.
Portanto é hora de reciclar o esporte nacional e fazer crescer novamente a modalidade que é a segunda no país, apenas perdendo para o futebol. Começar por uma extinção do ranking seria um passo gigante para cada vez mais as quadras do Brasil se tornarem novamente um palco para as grandes estrelas do cenário mundial.
Mateus Monte
Graduado em Direito pela Universidade Federal de Pelotas - RS; Estagiário do Escritório MZ Advocacia; Ex Estagiário da Procuradoria Seccional da Fazenda Nacional de Pelotas/RS - PSFN;
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